Conflito de gerações
Se minha
amiga não tivesse me contado que elas tinham muito em comum, além de serem parentes,
eu teria olhado aquelas três juntas e imaginado um papo sem assunto, dado o
conflito de gerações. Tal confronto está no ar porque recentemente as
diferenças entre as gerações ganharam espaço na internet, com os adolescentes
de hoje zoando os gostos e hábitos de um grupo que, enfim, está percebendo já
não ser mais tão jovenzinho - no qual se inclui esta que escreve...
Se
fôssemos categorizar o trio na cafeteria, a tia representaria a geração dos “baby
boomers”, aqueles com mais de 58 anos, que no geral buscaram estabilidade
amorosa e financeira na vida (e tiveram uma infância sem televisão colorida). Alice
faria parte da geração Y, os “millennials”, nascidos entre 1981 e 1995, que cresceram
na “virada do milênio”: vivenciaram os primeiros passos da popularização da
internet. Já a prima de 17 anos seria da geração Z, os que nasceram entre 1996
e 2010 e são “nativos digitais”: desconhecem um cotidiano sem tecnologia.
A tia
pediu um chá, Alice preferiu se entregar ao cheiro predominante do café, e a
prima não quis beber nada... Contou que estava enojada, pois acabara de escutar
“assobios” indesejados no caminho até ali. Alice disse que já tinha passado por
aquilo algumas vezes na vida. A tia delas também.
Entre
mulheres, ainda há vivências parecidas entre diferentes gerações. Mesmo após
conquistas - o estudo, o voto, o divórcio -, ainda há muito o que mudar na
sociedade patriarcal a que todas estamos submetidas e nas relações homem x
mulher. Eu e Alice somos da geração que se beneficiou de lutas anteriores de
movimentos feministas e encontrou um mundo com facilidades e direitos os quais é
até difícil acreditar terem sido obtidos há tão pouco tempo.
Embora
todos sejamos atingidos por valores marcantes de nosso “zeitgeist” - do alemão,
“espírito do tempo” -, temos nossa individualidade e podemos misturar
características das diferentes gerações. Pode ser proveitoso olhar para
comportamentos de pessoas com idades e experiências diversas e nos perguntarmos
quais valores poderiam caber em nossas vidas.
Trintões,
deixemos o ressentimento de lado, mesmo agora que nos sentimos mais velhos
depois de termos sido zombados por nossos gostos “antiquados”. Geração Z, caçoem
com moderação. Daqui a pouco, serão vocês o meme da vez.
Seja ouvindo
Rod Stewart, revendo a série Friends ou gravando um vídeo para o TikTok, todos
estaremos juntos na reconstrução deste país desgovernado e devastado pelos
impactos da pandemia.
Comentários
Postar um comentário